quinta-feira, 10 de março de 2011

Critica - Enter the Void

Enter the Void é um bom filme, mas não é um filme para qualquer um.

A coragem de Gaspar Noé é impressionante em um estilo de linguagem cinematografica novo ele aborda de forma visceral
questões como drogas, vida após a morte e tabus como aborto.
Mas o problema é que essa coragem é o mais interessante no filme, já que a nova linguagem de Noé que consiste em fazer um filme
totalmente em primeira pessoa, incluindo a metade do filme em que o protagonista morre e o longa continua na visão do espirito de Oscar.
Guiado pelo Livro Tibetano dos Mortos, que tem seu resumo contado pelo amigo Junkie do protagonista, o longa conta a história de Oscar
um jovem que mora no japão e acaba se virando fazendo trabalho de traficante, e que após sua morte segue como o livro diz
muito apegado a esse mundo e acaba reencarnando.

É interessante notar que Noé aposta em um tipo de amor não muito explorado pela industria cinematografica, o amor fraternal
que faz com que a maioria das ações tanto de Oscar quanto de Linda, sua irmã, se justifiquem.
Oscar é um jovem que tem muito peso nas suas costas e acaba fugindo para as drogas, fazendo dessas até mesmo seu ganha pão, Noé
proporciona um experiencia interessante quando nos coloca na cabeça de Oscar e podemos perceber como o protagonista se
engana constantemente quanto a sua condição de traficante e também quanto seu abuso das drogas, chegando até a considerar
seu amigo Alex como alguem com mais potencial para se viciar do que ele.
Linda é uma personagem infantil e que necessita de alguem para protege-la, algo que provavelmente é fruto da super-proteção de Oscar
e do trauma causado pelo acidente com seus pais. Após a morte de Oscar o roteiro se segura principalmente em Linda, o que é um erro
absurdo, já que esta é uma personagem desinteressante e muitas vezes irritante. Abalada pela morte do irmão esta acaba ficando grávida de
seu chefe no club de strip e gera uma das cenas mais chocantes do longa, o aborto de Linda, tratado por Noé de forma crua e fria, mas também
realista.
Alex pode ser considerado o personagem mais interessante do longa, considerado por Linda um Junkie, no começo do filme, e iniciador de Oscar
no mundo das drogas de Tokio, é também o personagem que nos dá a linha de raciocinio que guiará o longa quando este resume o Livro Tibetano dos Mortos.
No segundo e terceiro ato Alex esta nas ruas dependendo de seus amigos para sobreviver enquanto se esconde da policia que
o quer por ser a ligação entre Oscar e um grande fornecedor de drogas da cidade, este fato tira o foco de Alex já que sua condição
não muda até o final do filme.

Em aspéctos técnicos o filme é impecável, Noé e sua equipe de primeira linha, que incluem Pierre Buffin que tem em seu curriculo de efeitos especiais
Clube da Luta e Avatar e como diretor de musica Thomas Bangalter membro do Daft Punk, conseguiram criar o que talvez seja uma das obras primas de Noé.

Enter the Void é um filme longo e cansativo, principalmente pela visão em primeira pessoa e pelas luzes e viagens visuais que apesar de terem um papel importante
no conceito que Noé quis criar no filme (imitar uma viagem visual de acido) são cansativas e em certas alturas chatas.
A direção de Noé é primorosa em certos pontos mas em outros ela perde o foco e acaba se perdendo nas tentativas de criar a suposta viagem visual.
O roteiro é mediano mas peca por se basear em personagens desinteressantes e chatos fato que acaba fazendo o filme perder no quesito entretenimento.
Noé realmente conseguiu criar um filme vanguardista e memorável, com uma entrada de créditos que Tarantino considerou a melhor da década, mas acabou se perdendo
e fazendo um filme cansativo e mais experimental do que ele deveria ser.

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